Boris Pasternak, autor de O Dr. Jivago e um caso de amor

Olga Ivinskaya (1912-1995), amante de Boris Pasternak,
em 1937. Getty Photo

A grande paixão (quase) secreta entre Boris Pasternak e aquela que foi a grande inspiração para a heroína do seu romance famoso, O Doutor Jivago, Lara, tratou-se na vida real de Olga Ivinskaya. Este foi um caso de amor para se registrar na história. Pasternak era poeta, de origem judaica, nascido em Moscou, a 10 de fevereiro de 1890. Em 1914 aderiu ao movimento futurista então em expansão na Rússia Imperial. 

Olga com sua filha Irina.

Boris e sua filha Irina.

Olga, Boris e Irina.

Durante o regime soviético não foi considerado uma pessoa confiável dadas suas críticas ao sistema. Apesar de sofrer perseguições políticas por parte de autoridades soviéticas, Stalin ordenou que o "deixassem em paz", já que Pasternak traduzira alguns poemas do ditador anos antes. Pasternak traduziu Goethe para o russo. Conheceu muito jovem Leon Tolstoi. 

Era amigo, além de outros, dos poetas russos Vladimir Mayakovsky, Ossip Mandelstam, Marina Tsvetayeva e do escritor alemão Rainer Maria Rilke, de quem também foi tradutor. Em 1955 escreveu seu célebre "O Doutor Jivago", de certa forma uma autobiografia. O livro foi proibido na União Soviética em decorrência das fortes críticas ao regime. Em 1957 foi contrabandeado para a Itália, sob a forma de "samizdat" (texto mimeografado), e publicado por Feltrinelli. Logo se transformou num best-seller internacional, traduzido em um ano para 18 idiomas. 

Pasternak (segundo da esquerda para a direita) em 1924,
com amigos, incluindo Lilya Brik, Sergei Eisenstein (terceiro
da esquerda) e Vladimir Mayakovsky (centro). 

Em 1958, Boris Pasternak foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. Inicialmente ele aceitou o galardão, mas, pressionado pelo regime, renunciou ao prêmio após não ter sido autorizado pelo Kremlin a viajar para Estocolmo a fim de receber a condecoração. 

Morreu dois anos depois, em 1960, em sua casa de campo (dacha), em Peredelkino, nas cercanias de Moscou, de câncer no pulmão, cercado por Zinaida e seus filhos. Recebeu secretamente a extrema-unção por um sacerdote da Igreja Ortodoxa Russa, e os rituais de seus funerais foram realizados segundo os cânones desta religião. 

Dacha (casa de campo) de Pasternak em Peredelkino.

Pasternak casou-se, pela primeira vez, em 1922, com Evgenya Lurye, uma estudante no Instituto de Artes de Moscou. Tiveram um filho, Evgenii Pasternak, em 1923 e falecido em 2012.

Evgenya Lurye e Boris Pasternak com seu filho Evgenii.

Em 1932, se apaixona por Zinaida Neuhaus, então casada com o pianista russo Heinrich Neuhaus. Casaram-se dois anos depois, após seus respectivos divórcios. Com Zinaida ele viveu até o fim. 

Pasternak lendo o telegrama que comunicava a premiação
para o Nobel de Literatura. À esquerda sua esposa Zinaida.

Em 1946, Pasternak conheceu Olga Ovinskaya, de 34 anos, então jornalista e escritora no semanário Novy Mir (Mundo Novo). Tiveram um longo caso amoroso e uma filha chamada Irina. O episódio foi entremeado por perseguições do regime soviético a Olga. Como ele dissera a Olga que não deixaria Zinaida, a primeira foi acometida de forte quadro depressivo. Presa pela KGB na famigerada prisão da Lubyanka, no centro de Moscou, foi torturada, tendo ali passado alguns anos. Libertada, mais tarde foi enviada para um Gulag, na Sibéria. Após ser novamente libertada, em 1964, voltou para Moscou onde veio a falecer em 1995, aos 83 anos.

Hoje ninguém sabe o nome dos censores de Pasternak e dos carrascos que infernizaram a vida de Olga. Pasternak é um nome gravado com letras de ouro no livro da história da literatura universal. Olga, um nome para ser eternizado nesta bela história de amor, mesmo que compondo um triângulo amoroso.

Olga em foto de registro na sede da KGB, na Lubianka,
quando de sua prisão em 1960.

Túmulo de Pasternak em Peredelkino.