sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Crônicas da terra lusitana - Lisboa - A Praça do Rossio


Um dos pontos mais emblemáticos de Lisboa é a Praça (ou Largo) do Rossio, também conhecida como Praça de D. Pedro IV (nosso D. Pedro I). É um dos locais de acontecimentos mais importantes na história da cidade. No período romano ali existiu um hipódromo. Como fica na zona baixa da cidade, era navegável até o século XII, sendo chamada de Valverde (um afluente do rio Tejo). Passou a sediar a realização de feiras e mercados.

Na Idade Média começou a ser rodeada de edifícios variados. À sua direita, havia uma Judiaria importante. No século XV, no reinado de D. João II, em decorrência da intolerância religiosa, as casas e prédios da Judiaria foram destruídos e seus materiais, principalmente mármore, foi utilizado na construção do Hospital de Todos os Santos. Este era um longo prédio com grandes arcos ogivais de pedraria ao rés-do-chão, num total de 25. Tinha no meio o templo, de arquitetura manuelina, em cuja fachada havia um pórtico em gótico flamejante (flamboyant), com os emblemas dos fundadores. Foi concluído no reinado de D. Manuel I. Na sua parte norte, foi construído o Convento de São Domingos de Lisboa, em 1242, pelo rei D. Sancho II. Foi muito danificado no terremoto de 1531, mas foi reerguido 5 anos depois. A velha Igreja de São Domingos ficava junto à ermida de Nossa Senhora da Escada, também conhecida por Nossa Senhora da Corredoura, por ficar próximo do sítio deste nome, atualmente a Rua das Portas de Santo Antão, e cuja construção datava dos princípios da monarquia. Esta rua hoje é um dos pontos turísticos noturnos mais procurados de Lisboa, repleta de restaurantes com mesas em toldos nas ruas.

Na parte norte da praça foi construído o Palácio dos Estaus, em 1449, pelo infante D. Pedro, o regente, para hospedar monarcas e embaixadores estrangeiros, além de pessoas da corte sem residência própria. Havia aí uma capela real. A partir de 1540, aí residiu D. João III e onde seu filho, D. Duarte faleceu. Também foi onde D. Sebastião recebeu das mãos do cardeal D. Henrique o governo do reino, antes de sucumbir tragicamente na batalha de Alcácer-Quibir, na África. Em 1571 se instalou neste prédio o Tribunal e a Sede da Inquisição, sendo oficialmente chamado de Casa de Despacho da Santa Inquisição. Ficou completamente destruído no terremoto de 1755.

A praça foi reconstruída após o terremoto de 1755, já que poucos edifícios resistiram, tendo surgido uma praça retangular de 166 metros de comprimento e 52 de largura. No lugar do Palácio dos Estaus, em 1807, instalou-se o Paço da Regência, em 1826 a Câmara dos Pares, a Academia Ral de Fortificação, a Secretaria da Intendência da Polícia, a Escola do Exército e o Tesouro Público. Em 1836 ocorreu um incêndio que queimou completamente o edifício.

A Praça do Rossio presenciou touradas, festivais, feiras, revistas e paradas militares, festas cortesãs, revoluções populares e também a autos-de-fé durante a Inquisição ou execuções capitais. Milhares de judeus foram aí queimados na fogueira nestes autos-de-fé. Foi no Rossio que se deram os tumultos populares depois da morte de D. Fernando e que foi abandonado o cadáver do bispo D. Martinho, precipitado das torres da Sé de Lisboa. Aí foi queimado vivo Garcia Valdez, autor de uma conspiração contra o Mestre de Avis, e aí foram decapitados em 26 de agosto de 1641, o Duque de Caminha, o Marquês de Vila Real e o Conde de Armamar, réus do mesmo crime em relação a D. João IV. Finalmente, nas lutas liberais e miguelistas, foi aqui o teatro do sufocado pronunciamento constitucional de infantaria 4, em 22 de agosto de 1831, em que morreram mais de 300 homens.

Finalmente, foi construído no antigo local do Palácio dos Estaus o Teatro Nacional D. Maria II (filha de D. Pedro IV, de Portugal, ou D. Pedro I, do Brasil), entre 1846 e 1849, que continua até os dias atuais.

A praça foi arborizada, as fontes monumentais foram colocadas, a estátua de D. Pedro IV, de 27,5 metros de altura, foi inaugurada em 1870, o pavimento foi calçado com mosaico português, com pedras em preto e branco, com padrões ondulantes. Foi um dos primeiros desenhos desse tipo a decorar os pavimentos da cidade.

No princípio do século XIX se localizavam nesta praça os célebres botequins do Nicola e das Parras, onde se reuniam os literados do tempo, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Nuno Álvares Pato Moniz, Francisco Joaquim Bingre, João Vicente Pimentel Maldonado, etc.. Ali declamou Manuel Maria Barbosa du Bocage muitos dos seus sonetos e das suas mais famosas sátiras.

A praça hoje assiste a ocasionais comícios políticos, e os seus sóbrios edifícios pombalinos, já muito alterados, estão ocupados por lojas de recordações, joalherias, restaurantes e cafés

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