sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Crônicas da terra lusitana - Covilhã




Covilhã é uma cidade incrustada nas encostas da Serra da Estrela, se esparramando placidamente entre montes e ribeiras. Não fosse o fato de ser uma das mais belas cidades serranas de Portugal, o que chama a atenção é que Covilhã se localiza quase no fim do mundo. Como diz um blog: “para lá de cacha-pregos”. Diria eu: Covilhã fica onde o Judas perdeu suas botas. Afirmação correta, pois esta cidade já abrigou uma das mais importantes comunidades judaicas portuguesas até início do século XVI. Covilhã foi o maior centro industrial de lã (lanifícios) de Portugal até o século XVIII, quando a indústria têxtil britânica a sufocou até quase morrer.
A população urbana de Covilhã abrange 34 mil habitantes e quando se inclui sua região rural e pequenos vilarejos essa cifra sobe para quase 52 mil. Engloba hoje, com seu crescimento urbano, 10 freguesias. Está situada na vertente sudeste da Serra da Estrela e é um dos grandes centros urbanos da região, ao lado de Coimbra, Aveiro, Viseu e Figueira da Foz. A altitude de seu perímetro urbano varia entre 450 e 800 metros em relação ao nível do mar. O ponto mais alto de Portugal Continental pertence a uma das freguesias de Covilhã, chamada Torre e está a 1993 metros de altitude, ficando a 20 quilômetros de Covilhã.
Sua fundação está ligada a tribos pre-históricas que habitaram a região dos Montes Hermínios, considerados refúgio de pastores da lendária tribo dos Lusitanos. Conservam-se diversos vestígios arqueológicos do período, principalmente o Castro de Orjais, cuja estrutura fortificada foi construída no século VIII a.C. Na era romana, a povoação foi fortificada, quando recebeu o nome de Cava Juliana. Diversos vestígios romanos são encontrados em todo o concelho da Covilhã (Templo Romano da Senhora das Cabeças, em Orjais, a villa de Terlamonte, em Teixoso, ou partes de calçada romana, que se conserva junto à estação de comboios da Covilhã).
Na Idade Média, Covilhã tornou-se uma das mais importantes vilas do reino português. No final do século XII a povoação já tinha uma intensa vida econômica voltada para o lanifício, composta, principalmente, pela comunidade judaica. Em 1186, ganhou a doação de foral pelo rei D. Sancho I, que incentivou o repovoamento das terras de fronteira com a Espanha e, assim, reforçar a defesa do território. Nos anos seguintes, foram construídas as primeiras muralhas defensivas, reestruturadas, posteriormente, por D. Dinis, cujos vestígios ainda podem ser observados nas ruas do centro histórico.
No século XV a cidade se tornou domínio do Infante D. Henrique, quando passou a ter importância fundamental na era dos Descobrimentos. Foram inúmeros os cidadãos covilhanenses que participaram, direta ou indiretamente, na descoberta dos novos territórios ultramarinos, como navegadores, cosmógrafos ou missionários. A expansão para além-mar iniciou-se com a conquista de Ceuta em 1415. Personalidades da Covilhã como Frei Diogo Alves da Cunha, que se encontra sepultado na Igreja da Conceição, participaram no acontecimento. dentre eles se destacando o ilustre Pêro da Covilhã, primeiro navegador a alcançar o território de Moçambique e quem preparou o terreno das informações básicas para a grande aventura de Vasco da Gama, no reinado de D. João II.
Outros covilhanenses participaram das aventuras no Oceano Atlântico, da descoberta do caminho para a Índia, da descoberta do Brasil e da primeira viagem de circunavegação da terra. Entre os missionários encontramos o Beato Francisco Álvares, morto a caminho do Brasil; frei Pedro da Covilhã, capelão na expedição de Vasco da Gama para a Índia, o primeiro mártir da Índia; o padre Francisco Cabral missionário no Japão; padre Gaspar Pais que de Goa partiu para a Abissínia; e muitos outros que levaram, juntamente com a fé, o nome da Covilhã para todas as partes do mundo. Os irmãos Rui e Francisco Faleiro, cosmógrafos, tornaram-se notáveis pelo conhecimento da ciência náutica. Renascentista é Frei Heitor Pinto, um dos primeiros portugueses a defender, publicamente, a identidade portuguesa. A sua obra literária está expressa na obra "Imagem da Vida Cristã". Um verdadeiro clássico.
A importância da Covilhã, neste período, explica-se não apenas pelo título "notável" que lhe concedeu o rei D. Sebastião como também pelas obras aqui realizadas e na região pelos reis castelhanos. A Praça do Município foi até há poucos anos, de estilo filipino. Nas ruas circundantes encontram-se vários vestígios desse estilo. No concelho também. Exemplos de estilo manuelino também se encontram na cidade. É o caso de uma janela manuelina da judiaria da Rua das Flores. É o momento de citar o arquiteto Mateus Fernandes, covilhanense, autor do projecto da porta de entrada para as Capelas imperfeitas, no mosteiro da Batalha.
A proximidade com os importantes centros produtores de lanifícios na Serra da Estrela, onde abundavam os rebanhos de ovelhas, os fartos recursos hídricos da vila, provenientes dos ribeirões da Carpideira e da Degoldra, que atravessam a cidade, criaram as condições para a manufatura dos lanifícios e impulsionou a indústria que, durante alguns séculos, foi a maior da Europa.
Em 1681, o Conde da Ericeira fundou uma fábrica-escola junto da Ribeira da Carpideira, dando início a um dos períodos mais prósperos da vila. Alguns anos depois, trabalhavam na vila 17 teares e 400 tecelões.
Durante o governo do Marquês de Pombal a indústria da tecelagem ampliou-se com a fundação da Real Fábrica de Panos, junto à Ribeira da Degoldra. Com a expansão, em 1864, foi criada a Escola Industrial. Seis anos depois, Covilhã era elevada a cidade. Nas últimas décadas, Covilhã tem tentado superar o longo período de declínio de sua indústria de lanifícios, com renovação social e cultural, quando foi criada a Universidade da Beira Interior, em 1986.
A cidade oferece, para quem vai à Serra da Estrela, uma atividade cultural diversificada e interessante. Festivais, feiras e os mais diversos eventos tornam o passeio turístico pela Beira Interior muito atraente. Covilhã hoje ocupa a 14ª. posição no ranking de qualidade de vida das cidades portuguesas.
O clima do município é mediterrânico sendo que as precipitações são mais escassas no verão. Os Verões apresentam temperaturas altas, enquanto os Invernos têm temperaturas amenas durante o dia e mais baixas à noite. O frio aumenta conforme a altitude, variando de temperaturas mais altas nas partes mais baixas a temperaturas negativas e ocorrências de neve, por vezes abundantes, nas áreas mais elevadas, como a localidade de Penhas da Saúde, acima de 1 500 metros de altitude, a apenas 9 km da Torre. Na área urbana da Covilhã, a neve raramente aparece e geralmente não acumula sobre o solo. Quanto à vegetação, há o predomínio de bosques, com árvores como o carvalho e a azinheira, entre outras. Entre a vegetação arbustiva, a carqueja é bastante encontrada. A vegetação torna-se escassa em direção à Torre.
O mês mais quente é Agosto, com temperatura média de 22,2 °C, enquanto o mês mais frio é Janeiro, com média de 6,2 °C. A temperatura média anual da Covilhã é de 13,6 °C e a precipitação média anual é de 1 082 mm.
Fonte: Wikipedia
Créditos das fotos:
Wikipedia
Silvia Teodoro de Oliveira
Antônio Carlos Corrêa

Nenhum comentário:

Postar um comentário