sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A saga da família Oliveira


Durante o período da ocupação romana da Judéia, mesmo antes da destruição do Segundo Templo de Salomão, incontáveis famílias de judeus partiram para o exílio temendo o pior. E o pior realmente aconteceu no ano 70 d.C. Não existem provas arqueológicas do local de partida destas famílias rumo ao exílio. Pela antiga tradição hebraica, sabe-se que, desde o primeiro exílio na Assíria, grupos inteiros de clãs hebreus, provenientes de diversas tribos, partiram para a Europa Central, para o oriente, norte da África e, milhares deles, para a Península Ibérica. Esta era chamada de Sefarad, que, em hebraico, significa Terra Prometida. Isso em função das semelhanças geográficas, climáticas e da qualidade do solo com a terra de Canaã.

Os Hebreus mantinham boas relações comerciais e diplomáticas com os Fenícios, os maiores navegadores e comerciantes da Antiguidade, se é que assim se pode chamar esta convivência cultural e social entre estes povos no Oriente Próximo. Os portos de Tiro e Sidon eram os principais pontos de partida dos barcos Fenícios que singravam o Mar Mediterrâneo em todas as direções. Foram os Fenícios que fundaram a colônia no norte da África, posteriormente chamada Cartago. Lá estabeleceram um grande entreposto comercial de onde puderam ampliar suas rotas de navegação e comércio com o sul da Europa e a Península Ibérica. Chegaram aos confins do mundo conhecido de então: o Oceano Atlântico. Inúmeras lendas sobre estas paragens desconhecidas são provenientes do período das grandes navegações Fenícias. Novas ondas de emigração ocorreram após o retorno do exílio na Babilônia, e também quando do domínio sírio, persa, grego e romano da Judéia.

Existem evidências arqueológicas de que os Fenícios fundaram cidades como Gades (atual Cádiz), na Espanha. Daí que os hebreus, oito séculos antes de Jesus Cristo, já migravam para estes territórios. Aí, construíam suas sinagogas e seus objetos de culto religioso. Existem diversas tumbas com inscrições em hebraico antigo em diversas regiões da Península Ibérica. Existem inúmeras provas arqueológicas dessa afirmação em museus espanhóis. Como vimos, essas migrações foram mais intensas após o retorno do exílio na Assíria. É bem conhecida na Bíblia a história de Jonas, o profeta hebreu da tribo de Zebulão, filho de Amitai, natural da cidade de Gete-Héfer, do Reino de Israel, ao norte. Ele havia profetizado que, durante o reinado de Jeroboão II (Reis II 14 25; Jonas 1 1), caso os assírios persistissem em sua terrível crueldade e no grande derramamento de sangue do povo hebreu eles sofreriam a ira Divina, se não se arrependessem em quarenta dias. Jonas foi designado para ir a Nínive, capital da Assíria, para transmitir aos líderes dos opressores de seu povo esta mensagem. Os assírios eram conhecidos pela prática de decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios. Também crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos.

Com receio de que lhe ocorresse o mesmo, Jonas se acovardou e fugiu, em barco Fenício, rumo a Társis, no sudoeste da Península Ibérica, atual região da Andaluzia. A distância de Társis ao antigo porto hebreu de Jope (atual Tel Aviv) é de 3.500 quilômetros. Era uma viagem cheia de riscos e surpresas, que, na época, durava várias semanas. Durante a viagem de Jonas, segundo a Bíblia, ocorreu uma violenta tempestade. Os marinheiros, ao tomar conhecimento de quem era Jonas e o motivo dele estar ali, supersticiosos e com medo da vingança divina sobre eles, por estar compactuando com o fugitivo, atiraram Jonas ao mar. Imediatamente, a tempestade foi amainada, enquanto Jonas era engolido por um grande peixe. No relato bíblico, ele ficou no estômago do peixe por três dias e três noites, quando se arrependeu de sua atitude. Ao se arrepender, foi expelido (vomitado) pelo peixe numa praia. Daí seguiu rumo a Nínive para cumprir sua missão designada por Javé. No Livro de Jonas, os habitantes de Nínive e das cidades em seu entorno, supersticiosos que eram, e com medo das divindades, mostraram-se também arrependidos de seu comportamento sanguinário e violento. Fizeram jejum, se vestiram com sacos rústicos como penitência e pararam com suas atrocidades. Mas, Nínive não foi destruída e Jonas ficou desgostoso com tal situação. Foi repreendido por Javé por isso. Aproximadamente, cem anos depois, Esdras liderou outro grande grupo de hebreus em sua volta ao Reino de Israel.

As origens da família Oliveira

Não sabemos o nome original da família Oliveira, descendente da tribo de Levi. Sabemos que, entre aqueles que se dirigiram para a Península Ibérica (judeus sefarditas, nome proveniente de Sefarad), a Itália e o norte da África, os nomes mais adotados foram: Olivarez, Oliva, Benveniste, Bienveniste, Benvenist e Del Medico. Entre aqueles, dessa família, que se dirigiram à Europa Central e Oriental (judeus ashkenasis, ou asquenazes, nome proveniente do hebraico medieval Ashkenaz, que designava a palavra Alemanha), foram adotados os seguintes nomes: Epstein, Horowitz e Segall.

Segundo a tradição hebraica, esta família levita era descendente de Corá (Coré), filho de Yitzhar (Izar), filho de Coat (Qehat), filho de Levi. De acordo com a Bíblia, Corá participou de uma rebelião contra Moisés e Aarão que deixou marcas profundas em seus descendentes e desencadeou a ira de Javé. A punição divina foi terrível, numa das passagens mais chocantes do Velho Testamento. Como pode ser lido em Números 16 1-35, a rebelião contou com a participação de Corá, Datã e Abiram, filhos de Eliab, e On, filho de Felet, sendo Eliab e Felet filhos de Rúben. A eles se juntaram mais duzentos e cinquenta homens, chefes da comunidade, membros do conselho, e pessoas de fama. Transcrevemos um trecho desta passagem bíblica:

3Eles se reuniram contra Moisés e Aarão, dizendo: “Chega! Todos os membros da comunidade são consagrados, e Javé está no meio deles. Por que vocês dois se colocam acima da comunidade de Javé?”. 4Quando ouviu isso, Moisés se prostrou com o rosto no chão. 5Depois falou a Corá e aos outros que estavam com ele: “Amanhã cedo Javé mostrará quem é dele e quem é o consagrado, e ele o fará aproximar-se. Fará aproximar de si aquele que ele tiver escolhido. 6Façam o seguinte: peguem os incensórios, vocês e todos que os seguem. 7Amanhã vocês acenderão neles o fogo e colocarão incenso diante de Javé. Aquele que Javé escolher, esse será o consagrado. E, por ora, chega, filhos de Levi!”

8Depois Moisés disse a Corá: “Agora, escutem, filhos de Levi! 9O que é que vocês estão querendo? O Deus de Israel separou-os da comunidade de Israel, levando-os para perto dele, para vocês servirem no santuário de Javé e estarem à disposição para servir à comunidade. 10Javé fez você e seus irmãos levitas se aproximarem dele. Agora vocês querem também o sacerdócio? 11Vocês e seus seguidores se revoltaram contra Javé! Quem é Aarão, para vocês protestarem contra ele?”

A ira de Javé não tardou. Moisés solicitou a presença de Datã e Abiram para deles pedir explicações de tão audacioso gesto, pois, há muito, Javé havia dado a Aarão a função de ser o sumo sacerdote de seu povo. Ambos se recusaram a comparecer, numa atitude de franco desafio e hostilidade a Moisés e ao sumo-sacerdote. Moisés ficou furioso e se queixou a Javé que nunca havia feito qualquer mal aos rebeldes. Moisés solicitou, então, para o dia seguinte, uma reunião junto ao Tabernáculo de todas as tribos e intimou Corá a estar presente.

A ira divina foi assim descrita (Números 16 20-24):
20Então Javé falou a Moisés e Aarão: 21”Afastem-se desse grupo, porque vou destruí-lo num instante”. 22Moisés e Aarão caíram com o rosto por terra e suplicaram: “Deus, Deus dos espíritos de todos os seres vivos! Foi só um que pecou, e tu vais ficar irritado contra todos?” 23Javé falou a Moisés: 24”Diga às pessoas que se afastem das tendas de Corá, Datã e Abiram”.

Assim foi feito, e Moisés avisou a todos da comunidade para se afastar das tendas de Corá, Datã e Abirã. Os anciãos foram os primeiros a segui-lo, depois toda a comunidade. Moisés falou, então, para todos, que se esses homens morressem de morte natural, como ocorre com todo ser humano, seria um sinal evidente de que ele, Moisés, não era o enviado de Javé. Mas se o chão sob os pés deles se abrisse e todos os rebeldes fossem engolidos e descessem à mansão dos mortos, então todo o povo de Israel saberia que ele era o enviado de Deus. Dito e feito. Terminadas suas palavras, o chão se abriu tragando os rebeldes e todos os duzentos e cinquenta homens que os seguiram. Enquanto os demais membros dos hebreus fugiam espavoridos, com medo de também ser engolidos pela terra, um raio de fogo acabou por consumir a todos (Números 16 26-35).

Passado algum tempo, os descendentes de Corá, foram sendo readmitidos nas cerimônias religiosas e se reintegrando aos ensinamentos hebraicos e se mantiveram na obediência ao sumo sacerdote. Não há relato escrito, mas, provavelmente, o trauma desse episódio perdurou por muito tempo entre eles. Some-se a isto, a ocorrência das terríveis provações pelas quais passou o povo de Israel, no decorrer dos séculos seguintes, pode-se imaginar o quanto esses descendentes de Corá se sentiam e o grau de seu sofrimento e respeito pelas autoridades de seu povo.

Esta mesma tradição, que localiza a origem dos descendentes de Corá na cidade de Ramataim-Zofim, que, no primeiro século antes de Jesus Cristo, já no período da dominação romana, havia mudado seu nome para Arimatéia, nos informa que grande parte deste grupo fugiu da região, tomando de navios que partiram, talvez, do porto de Jope (atual Jaffa, agora unida a Tel-Aviv), em direção à Península Ibérica. Na ocasião, a Ibéria era uma província romana denominada Hispania Romana. O motivo da escolha da Hispania Romana foi que, apesar de ser membro do Império Romano, era uma região mais distante, tranquila e com menos fluxo de tropas romanas que no Oriente Próximo. Várias dessas informações podem ser obtidas no blog de Paulo Araujo:

http://rambamm.blogspot.com.br/, ele um brasileiro, judeu sefardita, residente no Rio de Janeiro.

O local escolhido foi a cidade de Gerunda (atual Gironda, em catalão, Girona, em castelhano, e Gerona, em português). Importante localidade a noroeste da Espanha, próxima à atual Barcelona (antiga Tarraco), foi fundada pela tribo dos indigetes, pertencente aos povos Iberos. Este nome, Gerunda, especula-se, significa “entre o Undários”, nome que, na língua ibera significava “recebia o rio Oñar”. No segundo século a.C. os romanos a conquistaram, ali estabelecendo um importante posto militar na estrada por eles construída e chamada Via Heráclea, posteriormente Via Augusta. Os judeus aí viveram em paz por vários séculos, dedicando-se, principalmente ao cultivo da oliveira e à produção do óleo de oliva, que foi a principal inspiração para sua futura mudança de nome. Após a queda do Império Romano e o advento do reino visigótico, houve uma convivência relativamente pacífica com este povo bárbaro que, rapidamente, assimilou a cultura romana e a religião cristã. Em 711, ocorreu a invasão muçulmana na Península Ibérica. Gerunda foi invadida em 715. Durante o domínio muçulmano esta família era chamada de “ha-Levi” ou de “ha-Itshari” (de Itzhar, ou Izar). Mas o domínio muçulmano, na Catalunha, pouco durou. Tropas franco-germânicas, da dinastia Carolíngia, logo os expulsaram e mantiveram sua influência, na região, por muitos séculos. Aí se situa, talvez, o início da cultura catalã, uma síntese das culturas dos iberos, romanos, visigodos, muçulmanos e cristãos francos.

No século XIII houve o esplendor cultural da comunidade judaica de Gerona. Sua escola cabalística representou importante papel, quando se destacou o rabino Nahmânides (o Bonastruc ça Porta, em catalão, cujo nome judeu era Moixé ben Nahman), que tornou-se, posteriormente, o Grão Rabino da Catalunha. A decadência da comunidade judaica começou no século XIV, agravando-se com o pogrom de 1391, quando os judeus foram encerrados na Torre Gironella, a fim de obriga-los a se converter ao cristianismo. O bairro judeu de Gerona, o Call, é um dos mais bem conservados da Europa e hoje constitui uma de suas atrações turísticas.

Neste período a futura família Oliveira tinha o nome de Benveniste. Percebendo a ameaça à sua sobrevivência, em função das perseguições cristãs e, sobretudo, pelo advento da Inquisição na região, antes que lhes acontecesse o pior, migraram para uma pequena comunidade chamada Cávia, ou Oliva-Cávia, encrustada nas montanhas próxima a Burgos, antiga capital de Castela. À época de sua migração, Burgos já estava em plena decadência em função da mudança da capital para Toledo. Estava, portanto, longe do grande movimento, do burburinho e das agitações religiosas que tanto ameaçavam os judeus. Segundo relato do geógrafo árabe Al Idrisi, no século XII, Burgos era uma cidade onde havia uma importante comunidade judaica. Algumas dessas famílias judaicas tinham o sobrenome de Olivares ou Olivarez, que significa serem de Oliva-Cávia.

Em 1492, os judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos, Fernando e Isabel. Não havia outra opção, a família Benveniste migrou, mais uma vez, para o norte de Portugal, na região do Minho. Foi neste período que, para manter seus laços culturais e familiares com seu antigo clã, da tribo de Levi, a família Benveniste resolveu mudar de sobrenome utilizando um criptograma. A palavra Oliveira (inspirada em suas atividades profissionais de comerciantes do óleo de oliva) contém as consoantes da palavra Levi, ou Levy: oLiVeYra. Outra correlação é o fato de serem descendentes de Yitzhar (Izar), isto é, eram Izaritas. A palavra Yitzhar, em hebraico, está relacionada com o óleo de oliva, e a árvore da oliveira produz o fruto de onde se extrai o azeite, que era usado na Antiguidade na unção sacerdotal. Como os levitas eram os sacerdotes do povo hebreu, a palavra oliveira veio bem a calhar. Assim, surgiu o sobrenome Oliveira.

Houve aqui uma engenhosa e muito inteligente forma de se camuflar para fugir das perseguições. Além da palavra oliveira conter o fonema das letras latinas, no qual os sons representavam o som ou fonema do nome de sua família em hebraico Levy (L-V-Y). Nas línguas semíticas (hebraico, aramaico, árabe e o amarico da Etiópia) não se usavam vogais na palavra escrita, somente as consoantes. Esse estratagema linguístico salvou a vida de milhares de judeus sefarditas das garras terríveis da Inquisição.

Muitos dos Benveniste que migraram para Portugal, quando a Inquisição chegou ao país lusitano, adotaram uma forma traduzida de seu sobrenome de família, a fim de disfarçar sua origem judaica. A tradução de Benveniste para o português é bem vindo, e assim adotaram o sobrenome de Benvindo. Esta família Benvindo, posteriormente, migrou para o Brasil, principalmente para a região do Nordeste, tornando-se grandemente numerosa no interior dos estados de Pernambuco e Bahia.

Segundo vários historiadores, dentre os quais se destaca a profa. Anita Novinsky, uma das maiores autoridades mundiais em estudos da Inquisição portuguesa, no primeiro século após a descoberta do Brasil, calcula-se que a população judaica em nosso território tenha atingido a impressionante cifra de 35% do total de habitantes. Aí se incluíam os Oliveira, os Levi, os Levy, os Benveniste e os Antunes. Sua área de concentração foi marcadamente no Nordeste.

Segundo o já citado Paulo Araújo, em seu blog relacionado anteriormente, o fundador da família Oliveira, em Portugal, foi o rabino Rabi Abraham Benveniste, nascido em 1433, na cidade de Soria, província de Cáceres, no Reino de Castela. Era descendente direto do Rabi Zerahiá bem-Its’haq ha-Levi, de Gerona, que viveu no século 12. Este era chamado de há-Its’hari, ou de Itshari, já que sua genealogia remontava aos filhos de Its’har, tio do profeta Moshe Rabenu. Ele fugiu da Espanha, com toda sua família, antes do decreto de expulsão dos judeus, em 1492. Como eram de Oliva-Cávia, eram conhecidos como Olivares ou Olivarez. Ao fugir da Espanha, estabeleceu-se no sul da França. Seus descendentes, notadamente os que residiram em Oliva-Cávia, se mudaram para Portugal e deram origem aos Oliveira. Destes, algum tempo depois surgiram seus parentes (além dos que mantiveram o sobrenome Benveniste): Oliveyra, Olivares, Olivera, Oliver, Oliveros, Olivetti e Olivette.
Com a intensificação da perseguição inquisitorial aos judeus, os originários de Oliva-Cávia tinham mais facilidade, após o batismo forçado, em adotar um sobrenome que lembrasse suas raízes judaicas.

Exemplos de outras famílias judaicas que camuflaram seus antigos sobrenomes para palavras da língua portuguesa: os Cohen, que significa sacerdote, adotaram o sobrenome Cunha; os Natan e Ben Natan, de origem levita, o sobrenome Antunes ou Antunez; os Ben Moreh, que significa filho do professor, os sobrenomes Moraes e Moreira; os Bem Menashe, que significa filhos de Manassés, o sobrenome de Menezes; os Ben Meir, que significa filhos dos iluminados ou dos sábios, os sobrenomes Meira e Meireles; os Fares, da tribo de Judá, os Faria; os Bem Soher, que significa filho ou descendente de comerciante ou de guardas, os Soeiro e Soares ou Suarez; os Bem Nun, descendentes de membros da tribo de Efraim, os Nunes e Nuñez; os Bem Shimon, da tribo de Simeão, os Ximenes, Ximenez, da Galícia, e os Simões, de Portugal; os Guimarim, que significa estudantes e intérpretes da Guemara, tratado religioso judaico, descendentes da tribo de Levi, nos Guimarães; os Quirós, outra família levita, nos Queirós, Queiroz e Queiroga.

O sufixo ES ou EZ, que esteve presente no sobrenome inicial dos Olivares, era utilizado para identificar a descendência da família. Substituía a palavra hebraica ben, e do aramaico bar, cujo significado é filho de. Significam a expressão hebraica Eretz Yisrael (Terra de Israel). Disso derivou a expressão que se referia aos judeus como gente da nação, isto é, da nação judaica.

Dentre os judeus, convertidos à força para o cristianismo, os, assim chamados, cristãos-novos, de origem ibérica, podemos citar: Perez/Peres/Pires, Aires/Ayres, Anes/Annes (forma reduzida de Yohanes/Yochnam/João), Rodrigues/Rodriguez,Hernandez/Fernandes, Henriques/Henriquez, Mendes/Mendez, Alves/Alvez, Alvares/Alvarez, Gonçalves/Gonzalez, Martines (de Martins)/Martinez, Galvez/Galves, Gutierres/Gutierrez, Garcez/Garcês (de onde derivou o sobrenome Garcia), Ximenes/Ximenez, Soares/Suarez, Simoes/Simeones, Nunes/Nunez, Lopes/Lopez, Gomes/Gomez, Marques/Marquez, Paes/Paez (variantes do sobrenome Paz), Meireles, Menezes, Abrantes, Neves, Fontes, Bentes, Tavares, Teles, Torres e Guedes.

O rei de Portugal, D. Manuel I (o mesmo monarca da era do Descobrimento do Brasil), obrigou os judeus portugueses ao batismo forçado em massa. A família Olivares/Benveniste/Levy dividiu-se, quando conseguiu fugir da Espanha. Formaram-se três grupos com nomes diferentes: os Oliva-Cávia, posteriormente mudados para Oliver-Cavia e os Del Medico, decorrente do fato de que grande número de seus membros exercia a profissão de médico. Estes últimos partiram para a Itália, onde mudaram seu nome para dal Medigo. Os Olivares e os Olivete, quando entraram em Portugal, também mudaram o sufixo ES por EIRA. Assim, surgiu a família de Oliveira.

Muitas das famílias que saíram da Espanha, Portugal e da França para a Itália e que originaram os del Medico e del Medigo, se uniram em matrimônio às famílias de judeus ashquenazis e originaram as famílias levíticas Horovitz, Horowitz, Segal, Segall e Epstein.

A partir de fins do século XVI, durante o século XVII e, principalmente, durante o século XVIII, quando ainda a Inquisição portuguesa estava em plena atividade (só foi extinta com a invasão napoleônica em Portugal), os Oliveira migraram em massa para o Brasil, para outros países da América espanhola, Caribe, Estados Unidos e Canadá.

No norte de Portugal, as regiões, onde havia grande concentração de judeus que emigraram para o Brasil, em particular para a Capitania de Minas Gerais, englobam toda a região entre os rios Minho e Douro, principalmente os arcebispados do Porto e de Braga. Também no Arquipélago dos Açores havia grande número de judeus, fugidos da Inquisição, desde o século XVI. Nós, os Oliveira de Minas Gerais e de outras partes do Brasil, descendemos dessas famílias.

Todo o nosso território está repleto de descendentes dessas famílias judaicas. Em sua quase totalidade, tornaram-se cristãos-novos, adotaram os costumes, os hábitos, a moral e as atividades que os portugueses exerciam na terra tupiniquim. Com o correr do tempo, seus descendentes se esqueceram dos antigos hábitos judaicos de seus ancestrais, em grande parte por que suas famílias mantiveram segredo de seu passado, a fim de preservá-los das perseguições e da violência da Inquisição. Esta chegou ao Brasil, pela primeira vez, por volta de 1592 e só foi extinta durante o período do governo do Marquês de Pombal, em Lisboa, em meados do século XVIII. Pombal teve uma postura absolutamente anti-inquisitorial e antijesuítica.

Alguns hábitos, a rotina diária, a alimentação, princípios morais e atitudes religiosas, mesmo que não identificadas com o judaísmo, foram mantidos pelos descendentes dos judeus. Entre outras características podemos apontar a discrição, o hábito de poupar boa parcela de seus rendimentos, sempre na expectativa de precisar de recursos no futuro e o hábito dos casamentos consanguíneos. Também a prática profissional na lida com finanças e investimentos monetários, atividades intelectuais, profissões liberais, e diversas outras, que eram rotina entre os judeus, foram mantidas aqui por seus descendentes. Tendo em vista a migração para o hinterland brasileiro, onde as atividades agrícolas e pastoris se tornaram predominantes, estas famílias as adotaram como meio de vida. Muitos solicitaram e obtiveram cartas de sesmarias na Capitania de Minas Gerais, para onde foram se aprofundando em seu território. Alguns se estabeleceram em cidades como Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Quelusito (então distrito de Queluz), São João Del Rey e Pitangui. Desta última, partiram os antigos cristãos-novos, agora católicos de fé, alguns até muito devotos, para o sertão do Campo Grande, na margem esquerda do rio São Francisco. Em diversas cidades da região se assentaram e criaram grande descendência. Uma dessas famílias se assentou, como sesmeira, em terras próximas à Serra da Saudade. Terras pertencentes a Custódia Luiza de Sant’Anna e vários de seus parentes. Seu genro Manuel Alves Cirino constituiu a Fazenda Cachoeira, berço dos Oliveira da região de Dores do Indaiá. Foi ele também um dos sesmeiros e fazendeiros que participaram da fundação do Arraial da Boa Vista, futura cidade de Dores do Indaiá. Fecha-se, assim, o ciclo histórico e a saga desta família, de Jerusalém à Serra da Saudade.

Para saber mais leia em:



Um comentário:

  1. Tenho muita propriedade em concordar com tudo apesar da minha família ter miscigenado muito por outro lado a formação e os valores são os quais foram descritos acima e Oliveira é o que tem em muito no tronco familiar ligado pelo menos em duas direções inclusive com a sua.

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