sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Albert Camus - O grande pensador francês sobre a moral e a política


Albert Camus (1913-1960)


O livro “Camus e Sartre – O polêmico fim de uma amizade no pós-guerra”, de Ronald Aronson, professor de estudos interdisciplinares na Wayne State University, Detroit, Michigan, foi lançado em 2004 e publicado no Brasil em 2007, pela Nova Fronteira. Pela primeira vez, a relação de amizade entre esses dois importantes pensadores franceses vem a público em forma de livro.

Camus, prêmio Nobel de literatura de 1957, teve seu nome associado à corrente filosófica do existencialismo, criada pelo então amigo e companheiro Jean-Paul Sartre, embora não se considerasse um existencialista. Foi jornalista, escritor, romancista, ensaísta, dramaturgo, pensador e filósofo num dos momentos mais cruciais da França, que engloba o período da década de 1930, a formação da Frente Ampla, a invasão do território francês pelas tropas nazistas, a Resistência, a Libertação, o pós-guerra com suas disputas políticas pelo poder entre distintos grupos (comunistas, socialistas, gaullistas, centristas, nacionalistas e liberais).

Albert Camus nasceu em 7 de novembro de 1913, em Dréan (Mondovi), uma pequena cidade ao norte da Argélia. Filho de mãe argelina, mas de origem espanhola, e pai de origem alsaciana, também nascido na Argélia e que morreu na Batalha do Marne, em 1914, no início da I Guerra Mundial. Viveu uma infância pobre e doente. Cedo adquiriu a tuberculose, agravada pelo clima seco e escaldante do deserto do Saara. Estudou a duras penas, sua mãe lavava roupa para fora para sustentar a família, mas teve a ajuda essencial de dois professores (Guérin e Grenier) que depois serão lembrados em sua grande obra “O Homem Revoltado”. Foi jogador de futebol, como goleiro, mas sua carreira esportiva não vingou em função da tuberculose. Em 1949, quando visitou o Brasil, a convite de Oswald de Andrade, fez questão de assistir a um jogo de futebol em São Paulo. Graduou-se em filosofia, fez mestrado e doutorado, com tese sobre Santo Agostinho. Não pode tornar-se professor em função de sua saúde, mas mergulhou na área do jornalismo, tendo sido um dos fundadores do jornal Alger Républicain. Foi crítico ferrenho da exploração colonial francesa sobre a Argélia. Os árabes não eram sequer considerados cidadãos franceses e eram tratados de forma humilhante e degradante. Camus ingressou no Partido Comunista Argelino onde militou por certo tempo. Visitou a França, onde percebeu a presença de um clima melhor para seu tratamento de saúde. Retornou a Argel e, em 1937, publicou seu primeiro livro intitulado “O Avesso e o Direito”. Em 1939, publicou “Noces”, uma coletânea de ensaios onde revelava seu estado de espírito um tanto depressivo em função de seu divórcio de Simone Hié, morfinômana.

Sofreu forte influência das obras de Franz Kafka e Dostoievski e seus livros deste período refletiam as angústias de seu tempo, seus dilemas e conflitos, enveredando-se por uma temática que remonta a situações do absurdo (a estética do absurdo), aproximando-se da literatura de Samuel Beckett e Eugène Ionesco. Ao mesmo tempo, dava seus primeiros passos dentro de conceitos da moralidade e da ética que o acompanhariam até seu fim.






Em seguida, teve que se mudar para Paris, em busca de um clima mais apropriado para o tratamento de sua moléstia. Seus filhos não puderam acompanha-lo e, com o início da guerra em setembro, ficaram separados por longo tempo. Juntou-se à Resistência Francesa onde teve uma militância ativa e proeminente. Em 1942, publicou “O Estrangeiro”, iniciado ainda na Argélia, antes da guerra, mergulhando mais na temática do absurdo, onde questionava a existência de Deus face às contradições da vida. Neste mesmo ano publica “O Mito de Sísifo – O Mito Sobre o Absurdo”, no qual abordava a questão do suicídio e do absurdo, aproximando-se, então, da problemática existencial de toda uma geração de autores e pensadores.

Neste ano conheceu Jean-Paul Sartre que admirava sua obra e sua inteligência. Fundou o jornal Combat, de esquerda, e uma das frentes de luta antinazista e da Resistência. Foi seu editorialista até 1947. Neste ano, publicou “A Peste”, uma alegoria da ocupação da França pelas tropas nazistas, com uma análise cuidadosa dos comportamentos humanos frente a situações extremas.

Nesta época, já havia rompido com o Partido Comunista (tanto o argelino quanto o francês) em função das notórias atrocidades cometidas por Stalin contra seu povo, pelos seus crimes contra os Direitos Humanos, pelo genocídio, pelos gulags, pela censura à liberdade de imprensa e cerceamento da cultura e controle da ciência, pela imposição do “realismo socialista”, pelas mentiras e pelo testemunho de inúmeros marxistas fieis que voltaram decepcionados da União Soviética, dentre eles o grande escritor francês André Gide.

Como Sartre, sua companheira Simone de Beauvoir, Maurice Merleu-Ponty e outros passaram, cada vez mais, a um ativismo pró-soviético, enaltecendo os feitos de Stalin, não reconhecendo seus erros e monstruosidades, o rompimento com este grupo foi inevitável.

Em 1951, publicou “O Homem Revoltado”, uma coletânea de ensaios dedicados à gênese histórica do ateísmo, mas, notadamente, uma crítica amarga ao comunismo e suas terríveis consequências. Com isso, passou a receber uma campanha feroz de tentativa de desconstrução de sua imagem, vinda de Sartre e seu grupo. Nunca mais se falaram até a morte de Camus, em 1960.

Notabilizou-se por levantar a questão da moralidade e a política: seria moral utilizar-se do princípio “os fins justificam os meios” para se implantar uma política de terror para alcançar um estado do bem-estar social? Camus, é claro, foi um dos maiores críticos desta cínica visão da política.

Em 1956, publicou “A Queda”, quando retomou a narrativa da problemática da justiça humana, em torno da célebre frase de Dostoievski: " Se Deus não existisse, tudo seria permitido". Então, seu reconhecimento literário e filosófico era mundial. Ao lado de Sartre, era considerado um dos maiores pensadores franceses do século XX.

Galardoado com o Prêmio Nobel da Literatura em 1957, Albert Camus faleceu prematuramente, a 4 de janeiro de 1960, num acidente de carro ocorrido nas cercanias de Sens, no sul da França.

Especula-se, e os rumores têm aumentado nos últimos anos, graças a novas pesquisas históricas, que o acidente que matou Camus (morreu também seu editor, Michel, um dos proprietários da Editora Gallimard, da França), bem próximo a Sens, em local onde um acidente automobilístico seria absolutamente improvável, teria sido, na verdade, um assassinato. Camus, num primeiro momento, havia recusado a carona que Michel Gallimard lhe oferecera para voltarem a Paris (estavam na Costa Azul). Ele já até havia comprado a passagem, por via ferroviária, ao lado de um amigo. Após muita insistência de Michel, Camus concordou em pegar carona. Seu amigo, também convidado, recusou para não sobrecarregar demais o carro, pois viajariam 5 pessoas no veículo. No acidente, ficaram feridas a esposa e a filha de Michel. Camus havia escrito contundentes críticas às autoridades soviéticas após a invasão da Hungria, em 1956, em artigo para a revista Franc-Tireur, em março de 1957, particularmente ao Ministro das Relações Exteriores da URSS, Dmitri Shepilov, acusando-o de massacre contra o povo húngaro. O governo soviético nunca o perdoou por essas críticas e, desde então, passou a atacá-lo com fúria. Era voz corrente em Paris, a partir de 1957, que havia um plano soviético para assassinar Camus.



Túmulo de Camus.  LourmarinProvença-Alpes-Costa Azul, França.
Fonte: Wikipedia.

Sua obra esteve esquecida por mais de três décadas, obscurecida por Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Merleau-Ponty, e os neo-kantianos, como Michel Foucault, Jacques Derrida, Pierre Bourdieu e outros. Com o alvorecer do século XXI, Camus foi redescoberto e sua obra vem sendo reavaliada em outro contexto, com um novo olhar. Seu legado sobre a importância da moralidade na política tornou-se o tema fundamental para os estudos da filosofia e ciências políticas nesses anos conturbados em que vivemos. Sartre deixou de ser o mito que foi, principalmente em função de suas dúbias e aéticas posições políticas.

Um dos maiores estudiosos do pensamento francês das décadas de 1930 até 1980, o historiador britânico Tony Judt, quando indagado em uma entrevista, qual seria o maior pensador francês deste período da história, qual seria lembrado daqui a cem anos, não teve dúvidas, respondeu: Albert Camus! Sartre comporia mais um capítulo de um livro sobre as história dos pensadores franceses do século XX.


Estocolmo, 10 de diciembre de 1957

Al recibir la distinción con que ha querido honrarme su libre Academia, mi gratitud es más profunda  cuando evalúo   hasta qué punto esa recompensa sobrepasa  mis méritos personales.  Todo hombre, y con mayor razón todo artista, desea que se reconozca lo que es o quiere ser. Yo también lo deseo. Pero al conocer su decisión me fue imposible no comparar su resonancia con lo que realmente soy. ¿Cómo un hombre, casi joven todavía, rico sólo por sus dudas, con una obra apenas desarrollada, habituado a vivir en la soledad del trabajo o en el retiro de la amistad, podría recibir, sin una especie de pánico, un galardón que le coloca de pronto, y solo, a plena luz? ¿Con qué ánimo podía recibir ese honor al tiempo que, en tantos sitios, otros escritores, algunos de los más grandes, están reducidos al silencio y cuando, al mismo tiempo, su tierra natal conoce una desdicha incesante?

He sentido esa inquietud, y ese malestar. Para recobrar mi paz interior me ha sido necesario ponerme de acuerdo con un destino demasiado generoso. Y como era imposible igualarme a él con el único apoyo de mis méritos, no he hallado nada mejor, para ayudarme, que lo que me ha sostenido a lo largo de mi vida y en las circunstancias más opuestas: la idea que me he forjado de mi arte y de la misión del escritor. Permitanme,  aunque sólo sea en prueba de reconocimiento y amistad, que les diga, lo más sencillamente posible, cuál es esa idea.

Personalmente, no puedo vivir sin mi arte. Pero jamás he puesto ese arte por encima de cualquier cosa. Por el contrario, si me es necesario es porque no me separa de nadie, y me permite vivir, tal como soy, a la par de todos. A mi ver, el arte no es una diversión solitaria. Es un medio de emocionar al mayor número de hombres, ofreciéndoles una imagen privilegiada de dolores y alegrías comunes. Obliga, pues, al artista a no aislarse; le somete a la verdad, a la más humilde y más universal. Y aquellos que muchas veces han elegido su destino de artistas porque se sentían distintos, aprenden pronto que no podrán nutrir su arte ni su diferencia más que confesando su semejanza con todos.

El artista se forja en ese perpetuo ir y venir de sí mismo hacia los demás, equidistante entre la belleza, sin la cual no puede vivir, y la comunidad, de la cual no puede desprenderse. Por eso, los verdadero artistas no desdeñan nada; se obligan a comprender en vez de juzgar. Y si han de tomar partido en este mundo, sólo puede ser por una sociedad en la que, según la gran frase de Nietzsche, no ha de reinar el juez sino el creador, sea trabajador o intelectual.

Por lo mismo el papel de escritor es inseparable de difíciles deberes. Por definición no puede ponerse al servicio de quienes hacen la historia, sino al servicio de quienes la sufren. Si no lo hiciera, quedaría solo, privado hasta de su arte. Todos los ejércitos de la tiranía, con sus millones de hombres, no le arrancarán de la soledad, aunque consienta en acomodarse a su paso y, sobre todo, si en ello consiente. Pero el silencio de un prisionero desconocido, abandonado a las humillaciones,  en el otro extremo del mundo,  basta para sacar al escritor de su soledad,  por lo menos, cada vez que logre, entre los privilegios de su libertad, no olvidar ese silencio, y trate de recogerlo y reemplazarlo, para hacerlo valer mediante todos los recursos del arte.

Nadie es lo bastante grande para semejante vocación. Sin embargo,  en todas las circunstancias de su vida, obscuro o provisionalmente célebre, aherrojado por la tiranía o libre para poder expresarse, el escritor puede encontrar el sentimiento de una comunidad viva, que le justificará sólo a condición de que acepte, tanto como pueda, las dos tareas que constituyen la grandeza de su oficio: el servicio a la verdad, y el servicio a la libertad. Y puesto que su vocación consiste en reunir al mayor número posible de hombres, no puede acomodarse a la mentira ni a la servidumbre porque, donde reinan,  crece el aislamiento. Cualesquiera que sean nuestras flaquezas personales, la nobleza de nuestro oficio arraigará siempre en dos imperativos difíciles de mantener: la negativa a mentir respecto de lo que se sabe y la resistencia ante la opresión.

Durante más de veinte años de historia demencial, perdido sin remedio, como todos los hombres de mi edad, en las convulsiones del tiempo, sólo me ha sostenido el sentimiento hondo de que escribir es hoy un honor, porque ese acto obliga, y obliga a algo más que a escribir. Me obligaba, especialmente, tal como yo era y con arreglo a mis fuerzas, a compartir, con todos los que vivían mi misma historia, la desventura y la esperanza. Esos hombres nacidos al comienzo de la primera guerra mundial, que tenían veinte años  en la época de instaurarse, a la vez, el poder hitleriano y los primeros procesos revolucionarios, Y que para completar su educación se vieron enfrentados a la guerra de España, a la segunda guerra mundial,  al universo de los campos de concentración, a la Europa de la tortura y de las prisiones, se ven hoy obligados a orientar a sus hijos y a sus obras en un mundo amenazado de destrucción nuclear. Supongo que nadie pretenderá pedirles que sean optimistas. Hasta llego a pensar que debemos ser comprensivos, sin dejar de luchar contra ellos, con el error de los que, por un exceso de desesperación han reivindicado el derecho al deshonor y se han lanzado a los nihilismos de la época. Pero sucede que la mayoría de entre nosotros, en mi país y en el mundo entero, han rechazado el nihilismo y se consagran a la conquista de una legitimidad.

Les ha sido preciso forjarse un arte de vivir para tiempos catastróficos, a fin de nacer una segunda vez y luchar luego, a cara descubierta, contra el instinto de muerte que se agita en nuestra historia.

Indudablemente, cada generación se cree destinada a rehacer el mundo. La mía sábe, sin embargo, que no podrá hacerlo. Pero su tarea es quizás mayor. Consiste en impedir que el mundo se deshaga. Heredera de una historia corrompida —en la que se mezclan las revoluciones fracasadas, las técnicas enloquecidas, los dioses muertos, y las ideologías extenuadas; en la que poderes mediocres, que pueden hoy destruirlo todo, no saben convencer; en la que la inteligencia se humilla hasta ponerse al servicio del odio y de la opresión—, esa generación ha debido, en si misma y a su alrededor, restaurar, partiendo de amargas inquietudes, un poco de lo que constituye la dignidad de vivir y de morir. Ante un mundo amenazado de desintegración, en el que se corre el riesgo de que nuestros grandes inquisidores   establecezcan para siempre el imperio de la muerte, sabe que debería, en una especie de carrera loca contra el tiempo, restaurar entre las naciones una paz que no sea la de la servidumbre, reconciliar de nuevo el trabajo y la cultura, y reconstruir con todos los hombres una nueva Arca de la Alianza.

No es seguro que esta generación pueda al fin cumplir esa labor inmensa, pero lo cierto es que, por doquier en el mundo, tiene ya hecha, y la mantiene, su doble apuesta en favor de la verdad y de la libertad y que, llegado el momento, sabe morir sin odio por ella. Es esta generación la que debe ser saludada y alentada dondequiera que se halle y, sobre todo, donde se sacrifica. En ella, seguro de vuestra profunda aprobación, quisiera yo declinar hoy el honor que acabais de hacerme.

Al mismo tiempo, después de expresar la nobleza del oficio de escribir, querría yo situar al escritor en su verdadero lugar, sin otros títulos que los que comparte con sus compañeros, de lucha, vulnerable pero tenaz, injusto pero apasionado de justicia, realizando su obra sin vergüenza ni orgullo, a la vista de todos; atento siempre al dolor y a la belleza; consagrado en fin, a sacar de su ser complejo las creaciones que intenta levantar, obstinadamente, entre el movimiento destructor de la historia.

¿Quién, después de eso, podrá esperar que él presente soluciones ya hechas, y bellas lecciones de moral? La verdad es misteriosa, huidiza, y siempre hay que tratar de conquistarla. La libertad es peligrosa, tan dura de vivir, como exaltante. Debemos avanzar hacia esos dos fines, penosa pero resueltamente, descontando por anticipado nuestros desfallecimientos a lo largo de tan dilatado camino. ¿Qué escritor osaría, en conciencia, proclamarse orgulloso apóstol de virtud? En cuanto a mi, necesito decir una vez más que no soy nada de eso. Jamás he podido renunciar a la luz, a la dicha de ser, a la vida libre en que he crecido. Pero aunque esa nostalgia explique muchos de mis errores y de mis faltas, indudablemente ella me ha ayudado a comprender mejor mi oficio y también a mantenerme, decididamente, al lado de todos esos hombres silenciosos, que no soportan en el mundo la vida que les toca vivir más que por el recuerdo de breves y libres momentos de felicidad, y por la esperanza de volverlos a vivir.

Reducido así a lo que realmente soy, a mis verdaderos limites, a mis dudas y también a mi difícil fe,  me siento más libre para destacar, al concluir, la magnitud y generosidad de la distinción que acabais de hacerme. Más libre también para decir que quisiera recibirla como homenaje rendido a todos los que, participando el mismo combate, no han recibido privilegio alguno y sí, en cambio, han conocido desgracias y persecuciones. Sólo me  falta dar las gracias, desde el fondo de mi corazón, y hacer públicamente, en señal personal  de gratitud, la misma y vieja promesa de fidelidad que cada verdadero artista se hace a si mismo, silenciosamente, todos los días.

* Fonte: Blog Gatopardo. 
Disponível em: http://gatopardo.blogia.com/2009/103101-albert-camus-discurso-de-aceptacion-del-premio-nobel-de-literatura-ano-1957.php


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