segunda-feira, 1 de maio de 2017

A Turma de 1937 da Escola Normal de Dores do Indaiá



Escola Normal Francisco Campos, em 1934. Foto colhida da casa
de meu bisavô Pedro José de Oliveira e Silva, onde morava
Maria de Oliveira. À direita, parte lateral das Classes Anexas.
Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa. Autor desconhecido.


Durante a nossa vida
Conhecemos pessoas que vêm e que ficam,
Outras que vêm e passam.
Existem aquelas que
Vêm, ficam, e depois de algum tempo se vão.
Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar...
               Charles Chaplin      


Corria o ano de 1937. O mundo caminhava vorazmente para o turbilhão da II Guerra Mundial. Seu fantasma começava a rondar os europeus, sua indústria, seus gabinetes governamentais, sua cultura e seu ideário. Os acontecimentos se precipitavam. A geopolítica europeia estava no alvorecer de convulsões intestinas que levariam à perda de milhões de vítimas com a hecatombe da guerra. Adolf Hitler, violando o Tratado de Versalhes, havia invadido e ocupado novamente o Vale do Ruhr, região superindustrializada da Alemanha e que havia sido ocupada pela França após a I Guerra Mundial. A União Soviética vivia seu inferno astral iniciado em 1917 e culminado com o início dos julgamentos espúrios de Moscou no ano anterior, numa sangrenta luta fratricida e autofágica que dizimou os velhos líderes bolcheviques propiciando o poder absoluto para Stalin. A Itália vivia o apogeu do fascismo, com sua violência e perseguições políticas, e colhia os efêmeros louros da invasão militar à Abissínia, atual Etiópia, numa aventura delirante de Benito Mussolini. A Espanha entrava no segundo ano de sua não menos sangrenta Guerra Civil que iria fraturar o país em duas partes irreconciliáveis e manteria esta divisão trágica por mais 30 anos. O mundo se traumatizou com a notícia do estúpido e criminoso bombardeio pela Força Aérea Alemã, a pedido do General Francisco Franco, de orientação fascista, da pequena cidade basca de Guernica, quando perderam a vida estraçalhados centenas de civis, crianças, adultos e idosos. Dois meses depois o pintor espanhol Pablo Picasso concluiria sua obra mais famosa, Guernica, imediatamente apresentada na Exposição Internacional de Paris de 1937. A Inglaterra ainda traumatizada com a morte do Rei Jorge V, a subida ao trono de seu filho Eduardo VIII e sua abdicação poucos meses após, a fim de se casar com a divorciada norte-americana Wallis Simpson, levava ao trono seu irmão George VI, pai da atual rainha Elizabeth II. Na cadeira de Primeiro Ministro da Grã Bretanha se assentava o tíbio Neville Chamberlain, um dos responsáveis pelo vórtice que levou à tragédia da guerra. Nos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt era sacramentado para seu segundo mandato presidencial. O povo americano ainda estava chocado com a tragédia do incêndio e total destruição do dirigível Hindemburg, quando um ídolo de sua aviação civil, a piloto Amelia Earhardt e seu navegador Fred Noonan, dois ícones dos ianques, desaparecem em um voo solitário nos céus do Oceano Pacífico após decolagem na Nova Guiné. No Oriente continuavam os lances sangrentos da guerra Sino-Japonesa até que a vitória final coubesse aos nipônicos. No mundo das artes a Alemanha assistia emocionada à première da ópera Carmina Burana, de Carl Orff , em Frankfurt. Nos Estados Unidos os Estúdios de Walt Disney faziam a sua première de um dos mais consagrados desenhos animados da história do cinema: Branca de Neve e os Sete Anões. Ernest Hemingway lançava sua novela To Have and Have Not, transformada em filme de grande sucesso poucos anos depois e intitulado no Brasil como Uma Aventura na Martinica, com performance extraordinária de Humphrey Bogart e Lauren Bacall. O maestro Arturo Toscanini, aos 70 anos, estreava apresentações de concerto pelo rádio, regendo a Orquestra Sinfônica da NBC, que seria um grande sucesso pelos 15 anos seguintes. Este foi também o ano de nascimento de grandes astros do cinema, como Vanessa Redgrave, Warren Beatty, Jack Nicholson, Morgan Freeman, Dustin Hoffman e o diretor Ridley Scott. O ator e dançarino Fred Astaire encantava as plateias de todo o planeta com dois de seus maiores desempenhos nos filmes Vamos Dançar?, em que contracenava com a incrível Ginger Rogers, e Cativa e Cativante, contracenado com a bela Joan Fontaine. Compositores como George e seu irmão Ira Gershwin, Oscar Hammerstein II, Jerome Kern se encontravam no Olimpo da música popular norte-americana e eram tocados em todo o mundo. Entretanto, a música mundial era dominada pelo jazz norte-americano. Orquestras como a de swing de Benny Goodman explodiam numa popularidade nunca vista anteriormente na história. Sua apresentação no Carnegie Hall, em janeiro, numa sala de espetáculos eruditos onde o jazz nunca antes tivera qualquer chance, transformou este gênero musical não apenas em música dos negros e ex-escravos pobres do sul dos Estados Unidos, mas na genuína música erudita norte-americana, que já era apreciada em todo o mundo. A gravação de Sing-sing-sing, ao vivo em pleno Carnegie Hall, pela  Orquestra de Benny Goodman, levou-o ao hall da fama, permanecendo no primeiro lugar das paradas de sucesso da revista Bill Board por diversas semanas. Daí em diante esta orquestra se tornaria uma lenda e hoje é história. Músicos e suas orquestras, como Count Basie, Duke Ellington, Tommy Dorsey, Guy Lombardo, faziam o delírio dos fãs mundo afora. Cantores românticos como Bing Crosby hipnotizavam as massas de jovens pelo planeta. Mahalia Jackson, com seu gospel inimitável, emocionavam um público cada vez maior. Na França, as músicas de Charles Trenet, embalavam os jovens, os maduros e os idosos com seu sentimentalismo romântico-patriótico. Dez anos depois sua antológica Douce France se tornaria o segundo hino nacional francês depois de tornar-se o hino da Resistência aos nazistas. 



O jovem Francisco Luís da Silva Campos.
S/d. Autor desconhecido.


No Brasil o presidente constitucional Getúlio Vargas impôs a ditadura do Estado Novo, endurecendo o controle político e social do país, criando uma tirania que duraria até 1945. A constituição do Estado Novo foi criada e redigida pelo Ministro da Educação e Cultura Francisco Luís da Silva Campos, nascido em Dores do Indaiá, Minas Gerais. Recrudesceu a repressão aos comunistas, representada principalmente pela prisão do dirigente Luís Carlos Prestes, líder da fracassada revolução comunista de 1935 (a Intentona Comunista), e condenado a 16 anos de prisão. O movimento integralista brasileiro, de nítida coloração fascista, liderado por Plínio Salgado, jornalista, escritor e político, aumentava gradualmente o número de seus militantes por todo o território nacional. Plínio havia participado da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo antes de se enveredar pela política. As músicas de maior sucesso no Brasil naquele ano da graça de 1937 eram: Carinhoso, de Pixinguinha, na voz de Orlando Silva; Chão de Estrelas, com Silvio Caldas; Periquitinho Verde, com Dircinha Batista; Coração Materno, com Vicente Celestino; Lábios que Beijei, com Orlando Silva; Mamãe Eu Quero, com Jararaca e Ratinho; Serra da Boa Esperança, com Francisco Alves; Não Tenho Lágrimas, com Patrício Teixeira e Rosa, com Orlando Silva. O cinema brasileiro não se destacou naquele ano. Dois filmes foram lançados: O Bobo do Rei, com direção de Mesquitinha e roteiro de Joracy Camargo e estrelado por Conchita de Moraes, Wanda Marchetti e Déa Selva, e Bombonzinho, uma comédia dirigida por Mesquitinha e estrelada por Dircinha Batista e Oscarito. O teatro brasileiro vivia uma época de forte censura neste ano em que foi criado o Serviço Nacional de Teatro pelo Estado Novo. Geralmente se apresentavam peças de autores internacionais com ênfase em William Shakespeare, notadamente no eixo Rio de Janeiro e São Paulo.



Francisco Luís da Silva Campos (1891-1968).
S/d. Autor desconhecido.


Esta longa digressão foi necessária para se enfatizar o contexto histórico e cultural em que o mundo vivia naquele ano da graça de 1937. Enquanto tudo era efervescência em outras paragens, numa época em que o mundo estava prestes a mergulhar no horror da guerra, o panorama era bem mais prosaico e manso na hinterlândia brasileira. Entrando no microcosmo da cidade de Dores do Indaiá, no sertão do Campo Grande, em Minas Gerais, minha mãe, Maria de Oliveira, graduava-se pela Escola Normal Francisco Campos, em 8 de dezembro de 1937. A Escola Normal, fundada em 1928 pela extraordinária ação do Ministro Francisco Campos, tivera sua primeira turma diplomada em 1928. Logo a escola se tornaria renomada pela excelência de seu ensino, pela qualidade de seus professores e pela seriedade com que encarava a questão pedagógica. Passou a atrair a atenção de famílias de toda a região do Alto São Francisco, Alto Paranaíba, demais cidades do Oeste de Minas e até de outras regiões do estado. Jovens moças de famílias abastadas e de classe média foram matriculadas por suas famílias nesta escola e passavam a residir no pensionato, construído na mesma ocasião e chamado de Classes Anexas. Em 1937 a escola já era bem conhecida em todo o estado. Neste ano a turma das graduandas não era numerosa, algo em torno de 25 alunas. Todas muito unidas como se depreende de algumas fotos tomadas em 1936.



Professores da Escola Normal Francisco Campos no início da década
de 1930. Da esquerda para a direita: Dr. Edgard Pinto Fiúza,
Cornélio Caetano, Henrique Schmitz.
Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria.


Quadro de formatura da primeira turma de normalistas em 1928.
Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria.



1- Yone Faria Guimarães
2- Yeda de Faria Moura
3- Dayse Gouthier
4- Alda Nunes
5- Dr. Edgard Pinto Fiúza
6- Carminha Soares
7- Maria Cândida
8- Laura Fiúza Guimarães
9 Maria de Oliveira
10- Neide Faria Guimarães
1936. Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria


Foi com imenso júbilo que recebi um grande presente: cópia dessas fotos encaminhadas pelo amigo José Antônio Guimarães de Faria, filho de Yone Faria Guimarães, uma das normalistas desse citado ano. A meu pedido, e com imensa amabilidade, José Antônio obteve junto a sua tia D. Maria Helena Fiúza Guimarães, D. Heleninha, professora aposentada desse nobre educandário, os nomes de grande parte das alunas aqui retratadas. Alguns anos antes, exatamente em 2001, eu obtivera junto a minha prima Ceci de Oliveira e seu genro Contardo Guimarães de Faria os nomes da maioria dos componentes da foto colhida após a celebração da missa quando da formatura da turma, em 1937, na escadaria da Matriz de Nossa Senhora das Dores. São fotos excepcionais pela sua qualidade, nitidez, boa preservação e que retratam um mundo ainda poético, singelo, em que se pode ver claramente nos rostos das formandas uma aura e uma luminosidade de quem tinha a confiança de possuir um belo porvir. Todas muito jovens, por volta de seus vinte e poucos anos, irradiavam a alegria do dever quase cumprido.



1- Prof. Edgard Pinto Fiúza
2- Prof. Eurípedes Campos
3- Profa. Esther Alves
4- Yeda de Faria Moura
5- Dayse Gouthier
6- Carminha Soares
7- Laura Fiúza Guimarães
8- Lilá Fiúza França
9- Maria Cândida de São José
10 Maria de Oliveira
11- Yone Faria Guimarães
12- Neide Faria Guimarães
13- Alda Nunes

1936. Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria


1- Yeda de Faria Moura
2- Alda Nunes
3- Prof. Edgard Pinto Fiúza
4- Maria de Oliveira
5- Maria Cândida de São José
6- Dayse Gouthier
7- Yone Faria Guimarães
8- Carminha Soares
9- Laura Fiúza Guimarães
10- Neide Faria Guimarães
1936. Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria


1- Prof. Waldemar de Almeida Barbosa
4- Zilda Fiúza Faria
5- Yeda de Faria Guimarães
10- Guilhermina Ude
11- Olavo Silva
12- Neide Faria Guimarães
13- Carmen Fiúza
14- Maria do Patrício
15- Maria do Lincoln
16- Carminha Machado
17- Carminha Soares
18- Alda Nunes
20- Araci do Bentinho
22- D. Altina Costa (?)
23- Maria de Oliveira
24- Yone Faria Guimarães
25- Dayse Gouthier
26- Laura Fiúza Guimarães
27- Dorinha Moura
28- Lilita Botinha (Luz)
29- Profa. Esther Alves
31- Neusa Caetano
32- Maria Costa (irmã da Jalma Costa)
1936. Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria


1- Prof. Dr. Eurípedes Campos
2- Prof. Dr. Edgard Pinto Fiúza
3- Prof. Waldemar de Almeida Barbosa
9- Dayse Gouthier
10- Yone Faria Guimarães
13- Lilita Botinha (Luz)
14- Yone Faria Guimarães
16- Maria de Oliveira

1936. Foto do acervo de José Antônio Guimarães de Faria


1936. Profa. Esther Alves e alunas. Acervo de Maria de Oliveira.


As formandas de 1937 e os professores defronte a Escola Normal Francisco Campos.
Foto de autor desconhecido. Acervo de Maria de Oliveira.


Dores do Indaiá em 1937. Foto tomada de dentro do prédio da Escola Normal,
provavelmente pelo mesmo fotógrafo e no mesmo dia em que foi tomada a foto anterior.
Acervo de d. Maria das Dores Caetano Guimarães.



Dores do Indaiá, particularmente a Escola Normal, vivia uma época de ouro em seu sistema educacional. Grandes mestres iluminavam as aulas nos diversos educandários. Alguns se tornaram verdadeira lendas do ensino dorense e mineiro. Destacaram-se os professores dr. José Soares de Carvalho, Henrique Schmitz, de naturalidade alemã, Cornélio Caetano, o médico Edgard Pinto Fiúza, Waldemar de Almeida Barbosa, Esther Alves, Eurípedes Campos, oriundas do Rio de Janeiro as irmãs Iracema, Juracy e Jacira Duffles Teixeira (irmãs do Marechal Henrique Duffles Teixeira Lott), Aspásia Vieira Ayer, Zilá França Fiúza, Dr. José Argemiro de Moura, Maria Fiúza Guimarães (Tota) e muitos outros.



1937. Missa de colação de grau. Formatura das normalistas. Matriz de N.S. das Dores.

1- Nilza do Jorge Caetano

2- Jalmira Costa 
3- Iracema Caetano
4,8- Famílias de Bom Despacho
9- Dr. João Chagas de Faria (Di)
10- Dr. Miguel Gontijo (ou seu irmão), de Bom Despacho
11- Dilermando Corrêa de Souza
12- Dayse Gouthier
14- Maria das Neves Corrêa (Nevita)
15- Prof. Waldemar de Almeida Barbosa
16- Vandinho
17- Maria de Oliveira
18- Alda Nunes
19- Francisco (Chico) do Patrício
20- Ramiro Botinha (tabelião de Luz)
21- Carminha Machado
22- Tonico Caetano
24- Maria do Patrício
26- Ieda Moura
27- Dr. Juquinha
28- Maria do Lincoln
29- Joãozinho Caetano
31- Alcírio Carvalho
35- Moça de Estrela do Indaiá
36- Araci do Bentinho
37- Bentinho
38- Laura Caetano
40- Romeu Soares
41- Dr. Jacinto Fiúza
42- Walter Ude
43- Guilhermina Ude
44- Filha do Dr. Jacinto Fiúza
45- Dr. Ricardo Fiúza
46- Carminha Soares
47- Vicente Carvalho (do Indalécio)
48- Carmen Fiúza
49- Olavo Silva
52- Celina Moura (do Vicente Carvalho)
53- Neide Guimarães
54- Dr. Eurípedes (diretor da Escola Normal)
55- Profa. Esther Alves


Acervo de Maria de Oliveira.













Vendo a monografia de conclusão de curso de minha mãe pude constatar o rigor, o grau de exigência dos professores para com as normalistas, a fim de que pudessem receber os seus diplomas. Seu tema versou sobre métodos pedagógicos a serem aplicados na alfabetização de crianças. A Escola se esmerava no ensino e seu principal objetivo era formar excelentes professoras que, por sua vez, iriam formar novos alunos, o futuro da nação.



Foto de 1934. Profa. Aspásia Vieira Ayer em primeiro plano. Na segunda fila, à esquerda, a Profa. Esther Alves. Ao centro o Prof. Edgard Pinto Fiúza. À direita de D. Esther minha tia Angélica de Oliveira Corrêa. Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa. Autor desconhecido.



1934. Profas. Aspásia Vieira Ayer e Esther Alves. Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa.
Autor desconhecido.


Além da Escola Normal Francisco Campos outros educandários em Dores do Indaiá se destacavam na área do ensino em toda a região do Alto São Francisco. Dentre eles o Instituto Guimarães (foto abaixo), fundado pelo prof. Cornélio Caetano, em 1911, e que sobreviveu até meados da década de 1920. 



Dores do Indaiá, alunos do Instituto Guimarães, 1920. Foto de autor desconhecido.
Meu pai, Dilermando Corrêa de Souza, então com 8 anos, encontra-se na primeira fileira assinalado pelo número 1. À direita, o prof. Waldemar de Almeida Barbosa, número 2.
Acervo de José Antônio Guimarães de Faria.



1929. Colégio Dorense, fundado pelo prof. Henrique Schmitz em 1927. Turma da 
profa. Iracema Duffles Teixeira. Acervo de Maria de Oliveira.





Década de 1930. Colégio Dorense. Prof. Cornélio Caetano e alunos. S/d. Autor desconhecido. 
Acervo de Ângela e Mônica Corrêa.




1937, Colégio Dorense (já se chamando Ginásio Dorense). Prof. Waldemar de Almeida Barbosa
e alunos. Foto de autor desconhecido. Acervo de d. Maria das Dores Caetano Guimarães.




Vista aérea de Dores do Indaiá em 1936. Foto de Waldemar de Oliveira.
Acervo de Ângela e Mônica Corrêa.
                               


Vista panorâmica de Dores do Indaiá em meados da década de 1930.
Vê-se, à direita, a Matriz de São Sebastião, demolida em 1937.
Foto de autor desconhecido. Acervo de Ângela e Mônica Corrêa.



Quando olho para estas fotos me transporto para um tempo que não vivi, não senti, não experimentei. Mas é como se eu ali estivesse, em carne e osso, amigo, colega ou confidente dessas jovens. Coloco-me no papel do professor e imagino quão gratificante devia ser lecionar para uma turma que se revelava tão unida, tão companheira, tão amiga, tão irmanada num sentimento de solidariedade. Coisas que vi poucas vezes nas várias décadas em que eu mesmo fui professor. Como devia ser bom ensinar essas jovens a dar aulas, orientá-las nos meandros da pedagogia educacional, nos princípios de puericultura e higiene materno-infantil, mostrar o que era uma célula ao microscópio, oferecer noções de botânica, ou demonstrar as reações ácido-base em um tubo de ensaio. Sim, a Escola Normal possuía laboratórios de química, física e biologia, providenciados pelo grande prof. Schmitz, importados da Alemanha. Dilapidados com os anos, não se fala mais nos laboratórios da Escola.

As normalistas eram treinadas no método Decroly para a alfabetização de crianças. O grande médico e educador belga Ovide Decroly, conhecido universalmente, criador do Método Global em educação, foi a grande estrela-guia da pedagogia daqueles tempos. Tempos que duraram longo período, pois eu mesmo fui alfabetizado, em 1951, através do Método Global. Este método partia do princípio de que a criança aprenderia com mais facilidade se fosse apresentada inicialmente ao conjunto de uma ideia, por exemplo uma frase. A frase é memorizada e progressivamente dividida em palavras e sílabas com a devida associação fonética à gráfica (associação de fonemas e grafemas). Por fim, a decomposição das sílabas e seus sons em letras que serão utilizadas para compor novas sílabas e palavras. Este método foi adotado em Minas Gerais com a reforma do ensino e da educação instituído pelo Secretário do Interior e da Educação, Francisco Campos, em 1927, no governo Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Ele fora o dorense de maior destaque na história desta cidade. Ficou conhecida como Reforma Francisco Campos. Estimulada pela sua mestra Lúcia Casasanta, uma das alunas do Instituto de Aperfeiçoamento (atual Instituto de Educação), Anita Fonseca, criou uma cartilha, chamada de pré-livro, que recebeu o nome de “O Livro de Lili”. Este ganhou o concurso instituído por Lúcia Casasanta e sua cartilha foi adotada nos cursos fundamentais, então chamados de primários, em Minas Gerais. Em sua primeira lição os alunos se deparam com o seguinte texto:

“Lili,
Olhem para mim,
Eu me chamo Lili,
Eu comi muito doce,
Vocês gostam de doce?
Eu gosto muito de doce!”










   

Observa-se que apresenta um texto de fácil compreensão para uma criança de 7 anos, um tema que apela para a cultura e os costumes locais, para a rotina de vida e os valores éticos e morais das famílias do período. Publicado pela primeira vez em 1930, passou por 83 edições até que o método global fosse substituído por novas orientações pedagógicas em meados da década de 1960. Lúcia Casasanta fora diretora da Escola de Aperfeiçoamento/Instituto de Educação e, posteriormente, Secretária de Estado da Educação de Minas Gerais. Granjeou fama nacional e internacional.

É preciso ser enfatizado que a Escola Normal Francisco Campos era considerada a terceira escola para normalistas do estado de Minas Gerais, vindo em primeiro lugar o Instituto de Educação, em Belo Horizonte e, em segundo, a Escola Normal de Juiz de Fora. O Método Global, com sua inovadora instrução de aprendizado através da memorização de uma pequena frase, a visão gráfica do seu conjunto, sua associação aos sons, em vez do velho e surrado método da silabação, foi revolucionário e formou gerações de pessoas que se tornariam luminares nas letras, nas ciências, nas artes e em outras áreas do conhecimento humano em Minas Gerais. Criticado por muitos, tido como elitista e fruto de um período autoritário na política brasileira (o Estado Novo), por desenvolver preconceitos sexistas e de raça (seria voltado para a população branca) e de maior poder aquisitivo, questionado por novos conhecimentos desenvolvidos por uma incipiente neurociência, foi abandonado por volta de 1965. Jaz esquecido hoje nos livros de história da pedagogia. Os métodos que o sucederam formaram e continuam formando gerações de pessoas que mal pronunciam o vernáculo, não sabem escrever e interpretar textos. Os chamados analfabetos funcionais. Uma catástrofe!

Minha mãe se foi muito cedo. Tinha apenas 37 anos quando problemas cardíacos acabaram por minar toda sua resistência corporal, após anos de sofrimento intenso. Recebeu em vida o carinho, a atenção e o amor de todos os seus. Deixou duas sementinhas pequeninas, dois filhos que lhe honraram a biografia. Não teve tempo de acompanhar as colegas da Escola em sua vida familiar, social e profissional. Não pode ver o sucesso na carreira docente de uma ou outra de suas colegas, pouco participou das recepções de seus noivados e matrimônios, pouco acompanhou suas vidas em suas novas famílias, pouco pode conhecer seus filhos e netos. Quão orgulhosa ela seria se pudesse descortinar a vida e o desempenho dos descendentes de suas tão queridas e amadas colegas!

Lembro-me muito bem, que quando vivi por algum tempo em Dores do Indaiá na década de 1950, havia sempre alguém a me lembrar que tinha sido colega dela na Escola e por quem nutria grande saudade. Me falavam de seus atributos pessoais, de sua bondade, de sua meiguice, de seu carinho para com todas, de seu apreço pelos professores. Este carinho era retribuído pelos mestres. Um deles, o ilustre médico dr. Edgard Pinto Fiúza visitou meus pais em São Paulo quando eles ali residiam no início da década de 1940, o que foi registrado em magnífica foto. Ao rever estas fotos sou tomado pela emoção! Belos tempos! Quanta saudade! Quanta poesia e lirismo nesse período único da história dorense! Memória que urge ser resgatada!




Da esquerda para a direita: Carlos, amigo da família,
Felício Pinto Ferrreira, Alvarina Malheiros, Dr. Edgar Pinto Fiúza,
Dilermando Corrêa, meu pai, e Maria de Oliveira.
Museu do Ipiranga, São Paulo. 1945. Acervo de Maria de Oliveira.


Se viva fosse quando, em 1951, a rainha das poetisas brasileiras Cecília Meireles escreveu seu poema Recado aos Amigos Distantes tenho certeza que Maria de Oliveira teria feito suas estes versos: 



Recado aos Amigos Distantes

Cecília Meireles, in 'Poemas (1951)' 

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança. 





ANEXO 

Textos do Livro de Lili

1. Lili
Olhem para mim.
Eu me chamo Lili.
Eu comi muito doce.
Vocês gostam de doce?
Eu gosto tanto de doce!

2. Lili em seu piano
Lili toca piano.
Lili toca assim
Dó, ré, mi, fá...
Suzete é a cachorrinha.
Suzete ouve Lili tocar.
Toca Lili, toca dó, ré, mi, fá...

3. A cozinheira
Olhem esta cozinheira!
A cozinheira é a Lili.
Lili gosta de doce.
Ela faz doce de abacaxi.
Joãozinho, você quer doce?
Você gosta de doce de abacaxi?

4. As meias de Lili
Eu vou calçar as minhas meias
As minhas meias são azuis.
Que pena! A minha meia tão bonita está furada!
 Eu não sei coser!
Como há de ser?

5. As bonecas de Lili
Lalá, Bebê, Clarinha.
Lili dizia dorme assim nã, nã, nã.
Eu também vou dormir.

6. (Sem título)
Lili está brincando com a boneca.
A boneca fica de pé.
Lili fala para a boneca:
- Anda, anda, Lalá!
Lalá anda, anda.
Lili pega Lalá.

7. (Sem título)
Eu me chamo Joãozinho.
Este automóvel é meu.
Meu automóvel faz assim: fon-fon.
Totó passeia comigo.
Totó é o meu cachorrinho.
Você quer passear no meu automóvel, Lili?

segunda-feira, 6 de março de 2017

O Colégio São Geraldo em Divinópolis




No início de março de 1956 comecei a estudar em regime de internato no Colégio São Geraldo de Divinópolis, Minas Gerais. Eu morava então com meus pais em Luz, cidade próxima a Divinópolis. Na época, estava na moda as famílias de classe média enviarem seus filhos para estudar em regime de internato em colégios renomados. O Colégio (ou Ginásio) São Geraldo era dirigido pelo francês, naturalizado brasileiro, Martin Cyprien, casado com senhora da sociedade de Divinópolis. Homem culto e fino, poliglota, grande administrador e mestre, apaixonara-se muito tempo antes de eu conhecê-lo pelas terras mineiras. Apesar de não ter orientação religiosa, o colégio seguia a rotina dos demais colégios católicos, dirigidos por padres de algumas congregações, como ocorrera no passado com o Seminário de Mariana e, em meados do século XX, no Caraça, em Diamantina (para moças), em Manhumirim e, no Estado do Rio de Janeiro, em Mendes. Sua reputação era a de um colégio rigoroso, com excelente corpo docente e disciplina militarizada. 

O Colégio São Geraldo foi fundado em 1922, em Oliveira, transferido depois para Pará de Minas em 1930 e, finalmente, para Divinópolis em janeiro de 1942. Seu fundador e primeiro diretor até fins de 1959, foi o professor Martin Cyprien. Passou também a Escola Técnica de Comércio em 1945. Deixou de funcionar definitivamente em 1959.

Três meses antes da minha viagem, meus pais se dedicaram a montar o enxoval para minha estada neste grande educandário. Foi uma enorme relação de roupas como uniforme, pijamas, calças, camisas, blusa de frio, meias, cuecas, toalhas, roupas de cama e todo o arsenal necessário a uma convivência diuturna nesse tipo de instituição. Todo o material escolar também foi junto. Tudo bem acomodado numa grande arca que veio me acompanhando. Todos os alunos tinham suas arcas com suas roupas. Viajamos na boleia de um caminhão saído especialmente de Luz para levar uns 6 ou sete estudantes desta cidade. Eu não completara, então, 12 anos de idade. Quando meu pai se despediu de mim, após entregar-me aos cuidados dos administradores do colégio, quase senti o mundo a desabar-me, pois, pela primeira-vez na vida estava eu sozinho, sem o acompanhamento de meus familiares. Ao abraçar-me, meu pai chorou e o acompanhei nas lágrimas. Um tremendo aperto no peito me sufocava. Durante todo o ano de 1956, quando ali estudei, todos os fins de tarde observava o por do sol sobre os muros dos fundos do colégio. O sol se punha na direção do Oeste de Minas Gerais, exatamente na direção de onde eu viera. Em todos os fins de tarde voltava o sufoco no peito e uma dor no coração. 

Quando recebia correspondência de meus pais em Luz, ou de meus avós paternos em Dores do Indaiá, era uma festa. A maior alegria que tive foi quando recebi um embrulho, enviado por minha avó Virgínia, mãe de meu pai, com alguns de meus doces preferidos: goiabada cascão e queijo curado das fazendas de Dores. Durante algumas semanas me deliciava após o almoço com aquelas iguarias que ficavam guardadas na despensa da cozinha do colégio, devidamente etiquetadas com o nome de seu dono. Todos os estudantes em regime de internato recebiam suas encomendas, em geral doces e demais guloseimas enviadas por suas famílias. Todas armazenadas no mesmo aposento.

Acordávamos bem cedo, por volta de 6,00 horas. Às seis e meia estávamos tomando o café da manhã. às 7,00 horas impreterivelmente começavam as aulas. Estas terminavam por volta de 11,40 horas. Ao meio dia era servido o almoço no grande restaurante. Durante as refeições, o coordenador disciplinar do colégio, Sr. Joaquim, sentado em uma cadeira bem elevada, lia trechos de livros, da Bíblia Sagrada, ou outros textos de interesse pedagógico e cultural. Algumas vezes, eram alunos dos cursos finais do ginasial a ler estes textos. Após intervalo de 1 hora, iniciava-se o período de estudos compulsórios no também imenso salão de estudos que compreendia toda a construção a oeste. O prédio do colégio ocupava todo um quarteirão da cidade. A parte da frente era ocupada pelas salas da diretoria, dos professores, a administração e as salas de aula. No segundo andar os dormitórios abrangiam toda esta ala. O refeitório e imensa cozinha ocupavam grande parte da ala leste do conjunto. Nos fundos, acompanhando o imenso pátio central, um grande muro de mais de quatro metros de altura que, para muitos, lembrava o de uma prisão. Neste pátio ocorriam as aulas de educação física. As aulas de natação, e aprendi a nadar aí, eram dadas no Clube Social de Divinópolis, bem no centro da cidade, duas vezes por semana, no primeiro horário de aulas, isto é, às sete da matina. Divinópolis era então considerada uma cidade muito fria no inverno. Imagine-se nadando numa piscina sem aquecimento nos meses de maio e junho. Foi por desespero e medo do frio que aprendi a nadar, meio que no sufoco, para poder me aquecer rápido com os exercícios dentro d'água. Até hoje é o básico de minha natação. As aulas de natação que tive, décadas após, no Minas Tênis Clube, foram apenas uma consolidação do aprendizado que tive na piscina de Divinópolis.

Imensos corredores circundavam o pátio central onde, nos momentos de lazer sentávamos em grandes bancos para uma conversa amena, contar piadas, trocar livros ou revistas, discutir sobre futebol ou sobre nosso time de preferência, etc. Havia alto-falantes neste amplo local que transmitia noticiários e músicas clássicas e populares do repertório da década de 1940 e 1950. Lembro-me bem que, em outubro de 1956, todos nós estudantes ficamos apavorados com os acontecimentos que se desenrolavam no mundo: em finais de outubro, a invasão do Egito por tropas de Israel, França e Grã-Bretanha, e a invasão soviética à Hungria, no início de novembro. O presidente do Egito, General Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, praticamente isolando o Estado de Israel de sua saída para o Mar Vermelho e Oceano Índico. Como o canal ainda pertencesse à Grã-Bretanha, Israel invadiu o Egito com o apoio da Grã-Bretanha e França. As notícias eram transmitidas todas as tardes e tremíamos nas bases, pois sabíamos que vivíamos em pleno período da Guerra Fria. Nosso grande receio era do envolvimento maciço dos Estados Unidos e União Soviética no que poderia se tornar a III Guerra Mundial. Para nosso alívio, o presidente americano, General Eisenhower pressionou Grã-Bretanha, França e Israel que se retiraram do território egípcio após uma rapidíssima invasão, sob a supervisão da ONU. Os americanos estavam mais preocupados com a invasão soviética na Hungria que ocorreria menos de duas semanas após a guerra Árabe-Israelense.

Apesar de ter sido um período muito difícil em minha vida, dada a distância da família, aprendi muito em suas salas de aula. A biblioteca, muito rica por sinal, ficava próximo à secretaria. Tínhamos livre acesso ao seu acervo e foi ali que vi e li, pela primeira vez, as estórias narradas magistralmente por Agatha Christie e seus personagens incríveis, os detetives Hercule Poirot e Miss Marple, Sir Conan Doyle e seu insuperável Sherlock Holmes, Georges Simenon e seu inesquecível detetive Jules Maigret, Maurice Leblanc e seu inigualável detetive Arsène Lupin. Às quartas-feiras, às 19,00 horas havia sessão cinematográfica quando eram projetadas películas de produção mais barata, do então chamado cinema tipo B de Hollywood. Essas projeções se davam no imenso salão de estudos que o colégio oferecia a seus alunos. Não eram filmes que estavam fazendo sucesso nos cinemas de todo o mundo, mas eram muito interessantes. Dentre estes filmes muitos eram chamados "noir", um tipo de filme policial, em preto-e-branco, de produção não dispendiosa, com temática detetivesca envolvendo crimes misteriosos, carregados de suspense e dúvidas até o fim, fotografia com forte contraste claro-escuro, envolvimento de gângsteres, tráfico de drogas e mulheres, prostituição, a presença constante da mulher fatal (femme fatale). Anos depois eu me tornaria um aficionado pelo cinema noir, pesquisador e colecionador deste gênero cinematográfico.

Aos domingos, após o almoço, que ocorria mais cedo, por volta de 11,30 horas, tínhamos autorização para sair em um passeio pela cidade. Nestas ocasiões, frequentávamos duas sessões cinematográficas durante a tarde: às 14,00 e 16,00 horas. Dava tempo de fazer um lanche, tomar um sorvete, antes de retornarmos ao Colégio. Às 18,00 horas era obrigatório estar em suas dependências. Pude assistir a filmes memoráveis, nos grandes e belos cinemas de Divinópolis, filmes esses que jamais sairiam de minha memória. Algum tempo depois, já não mais estudante do Colégio São Geraldo, montei álbuns com recortes de jornais que reproduziam cartazes de filmes, nos quais eu anotava todos os detalhes técnicos, os atores e diretores dos grandes filmes de minha vida, grande parte deles vistos quando de minha passagem por Divinópolis. Às 20,30 horas, nos recolhíamos aos grandes dormitórios, todos disciplinadamente organizados, colocávamos nossos pijamas, escovávamos os dentes e nos deitávamos para uma merecida noite de repouso e, quem sabe, sonhos com as atrizes dos filmes vistos. Às 21,00 horas as luzes eram apagadas. 

Quando, anos depois, viajando de carona de Belo Horizonte para Dores do Indaiá, na companhia de um primo, passamos por Divinópolis, já que ele tinha negócios na cidade, pedi a ele que passássemos defronte o colégio. Subimos a Rua Goiás de grandes e memoráveis lembranças, com suas lanchonetes e padarias que conhecíamos de cor e salteado e dobramos à esquerda na rua do colégio. Meu coração pulsava de emoção. Desci do carro, pus os pés no passeio que outrora eu tanto pisara, olhei para o prédio de alto a baixo, de leste a oeste e aquela construção que no passado me parecera tão grande, tão monumental, era agora sombrio, de um cinza manchado pela falta de pintura, um tanto abandonado e mal cuidado, agora sob a administração de uma escola estadual e meu coração doeu mais uma vez. Acredito que pela última vez. Aquele grande educandário que formou tantos líderes na história política de Minas Gerais, tantos ilustres profissionais liberais, educadores, professores, juristas, legisladores e técnicos dos mais variados calibres, agora estava relegado a uma insignificância. Como dói ver os nossos valores assim tão destruídos! Como pesa a percepção de que nossa cultura vem sendo sistematicamente destruída e nada nos é dado em compensação! Grande Colégio São Geraldo, a quem devo tanto, não merecia tão triste fim!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Dores do Indaiá, uma flor do cerrado no Campo Grande

https://www.youtube.com/watch?v=Q23EhbDDus8


Cidade surgida como um rancho às margens da Picada de Goiás, em 1798, na região do Alto São Francisco. Meus antepassados tiveram importante protagonismo em todas as etapas de sua criação, formação, desenvolvimento e consolidação como cidade.

Dores do Indaiá já viveu dias melhores, como no auge do comércio de gado zebu, na década de 1930, e durante o período do apogeu da cultura difundida por toda a região pela Escola Normal Francisco Campos, nas décadas de 1930 a 1960.

A cidade reduziu seu tamanho nas últimas décadas, grande parte de suas tradicionais famílias se deslocou para outros centros em busca de melhores condições de trabalho, de vida e de cultura para seus filhos. Porém continua bela, no imaginário e nos sonhos de todos os seus filhos e amigos dos filhos.

Suas autoridades precisam investir mais na preservação deste precioso patrimônio histórico e arquitetônico das Minas Gerais.

Que seja abençoada!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Por que a beleza importa?

Mais um documentário magistralmente conduzido pelo grande filósofo britânico, Sir Roger Scruton , sobre as relações entre a beleza, a estética e a arte nos tempos contemporâneos. Um documentário que é um deleite para os olhos, os ouvidos e o espírito. Neste mundo pós-moderno, em que os valores morais, estéticos e culturais estão sendo subvertidos, contestados, invertidos e, por fim, destruídos, ver e ouvir eruditos como Sir Roger Scruton é pura melodia celestial.


https://www.youtube.com/watch?v=bHw4MMEnmpc&t=498s

O Belo e a Consolação



Há 16 anos a televisão inglesa produziu e apresentou uma série de documentários sobre o que é a beleza, a estética e a arte. No Brasil poucos foram os que puderam ver esta excelente obra. Agora temos a oportunidade, via YouTube, de ver e curtir esta grande produção televisiva. Dentre os entrevistados, destaca-se Sir Roger Scruton um dos maiores especialistas no mundo sobre beleza, estética e a arte.

O texto abaixo acompanha o vídeo divulgado no YouTube.

Como escreveu alguém num blog: «A uma dada altura a SIC passou aquele que talvez tenha sido o melhor programa de televisão alguma vez feito.» Entre 1 de maio de 2001 e 15 de maio de 2002 e depois repetido em 2006 a SIC, na rubrica (quinzenal) "Noites Longas", apresentou um programa de entrevistas que tinha como título holandês "Van De Schoonheid en de Troost" no original; "Of Beauty and Consolation" na versão inglesa e "O Belo e a Consolação" na tradução portuguesa, que em alguns programas mudou para, "Da Beleza e Consolação"; deve ter tido a ver com os vários tradutores envolvidos, já que traduziam de ouvido e ver (algumas legendas de origem e o titulo estavam em holandês). 

A ordem por que passou na Sic foi: Richard Rorty, filósofo; Simon Schama, historiador; Martha Nussbaum, filósofa; George Steiner, escritor e filósofo; Roger Scruton, filósofo; Stephen Jay Gould, zoólogo e paleontólogo; Edward Witten, cientista e matemático; Steven Weinberg, cientista; Gary Lynch, neuropsicologista; Leon Lederman, cientista experimental; Vladimir Ashkenazy, pianista e maestro; Catherine Bott, soprano; Rudi Fuchs, director de museu; Karel Appel, pintor; John Coetzee, escritor; Elizabeth Loftus, psicóloga; Germaine Greer, escritora; Wole Soyinka, escritor; Yehudi Menuhin, violinista e maestro; Dubravka Ugresic, escritora; Grand Finale (debate em Amesterdão entre alguns dos participantes); György Konrád, escritor; Jane Goodall, escritora e etóloga; Tatjana Tolstaja, escritora e Rutger Kopland, poeta e psiquiatra. 
Esta ordem devia ser igual à que passou na televisão holandesa VPRO, já que é costume vir uma "running order" a acompanhar os programas. A série constava de 24 conversas (deviam ser 26, mas dois; Freeman Dyson, cientista e Richard Dufallo, maestro, nunca chegaram a vir (não se sabe a razão), com vinte e quatro pessoas extraordinárias com diferentes percursos e visões da vida: artistas, cientistas, músicos e filósofos. 


Apresentada por Wim Kayzer (jornalista , cineasta e escritor) e produzida por Vera de Vries, foi pela primeira vez transmitida pela televisão holandesa VPRO, em 2000. No site da VPRO (http://www.vpro.nl/programma/schoonhe...) existe documentação áudio e vídeo em inglês sobre a série. Encontrei também referencias a um livro em holandês de Wim Kayzer de titulo "Het boek van de schoonheid en de troost" (O livro da beleza e consolação), que saiu na mesma altura em que a série foi apresentada na Holanda. Pela pesquisa que fiz só teve edição holandesa.


Aqui vos deixo para quase todos, os programas de "O Belo e a Consolação", legendados em português, seguindo uma ordem aleatória, com a única certeza que o último a colocar será o debate final.



https://www.youtube.com/watch?v=5eBesqSRBoo&t=19s